Tinder begins
Olá, caro leitor acreano,
Seja bem-vindo à segunda crônica sobre o fim de todas as coisas, este espaço onde divago sobre os absurdos e as nuances da vida naquilo que gosto de chamar de “era da escrotidão”. Admito que estou mais nervoso agora do que na primeira vez. Afinal, desta vez é pra valer: as festas de fim de ano ficaram para trás, a rotina voltou ao normal, e não posso mais culpar as festividades pelo fracasso do número de acessos ao site (haha).
Mas vamos direto ao ponto. O tema de hoje, como o título sugere, é a história de como conheci o Tinder. Sei que talvez seja uma péssima ideia escrever sobre isso, considerando o mundo atual, onde parece que todos estão à procura da próxima vítima do cancelamento. Contar uma experiência heteronormativa sob o ponto de vista masculino pode ser um prato cheio para críticas. Mesmo assim, sinto que não posso me calar, pois são histórias que vivi e sentimentos reais que experienciei. Não quero minimizar ou apagar minhas vivências em prol de uma agenda identitária. Vamos ao que interessa.
Nunca fui um cara bonito. Aos meus vinte e poucos anos, era particularmente esquisito: um nerd gordinho, desengonçado, com habilidades sociais bem questionáveis. Trabalhava como operador de telemarketing, tinha dificuldades para conversar , o famoso “criado por vó” – no sentido mais literal e metafórico da expressão. Esses aspectos não ajudavam em nada quando tentava me relacionar com mulheres. Não importava se eram da minha idade, mais novas ou até bem mais velhas… bem acho que deu para entender.
Ainda assim, de tempos em tempos, pela graça dos Novos e Velhos Deuses, eu conseguia engatar alguns relacionamentos. Alguns duravam apenas dias, outros meses. Mas, sinceramente, nenhum deles deixou um impacto significativo na minha vida adulta, a não ser por algumas histórias curiosas que, quem sabe, um dia eu compartilhe aqui. O ponto principal é que, em 2015, quando meu noivado terminou, senti como se meu mundo tivesse desabado. Não conseguia me imaginar novamente no papel de solteiro buscando um relacionamento. Para alguém como eu, era um milagre ter tido uma namorada uma vez – um raio poderia cair duas vezes no mesmo lugar?
Enquanto eu lamentava minha situação, todos os homens ao meu redor pareciam ter suas próprias “teorias” sobre a arte da pegação. Lembro-me de ouvir relatos que, olhando em retrospecto, eram evidentemente exagerados e beiravam o absurdo. Ainda assim, esses “manuais” masculinos só me faziam sentir ainda mais deslocado. Eu não conseguia imaginar como seria conseguiria um convite para participar de uma suruba com um palhaço, um anão e três guias nepaleses – algo que eles narravam como se fosse a coisa mais simples do mundo. Apesar de tudo, resolvi tentar, e é aí que minha saga começa.
O ponto de virada veio durante uma conversa com meu amigo e então sócio da Era da Escrotidão, Emerson. Ele era um cara à frente do seu tempo, e, embora eu não compreendesse totalmente o jeito ou o humor dele na época, suas ideias acabaram moldando aspectos importantes da pessoa que sou hoje. Ele me ajudou a me desprender de preconceitos e paradigmas que estavam profundamente enraizados na nossa sociedade.
Nessa conversa, eu desabafava sobre a dificuldade de me relacionar com mulheres aos 23 anos, ao que ele respondeu que também não era exatamente um mestre no assunto. No entanto, revelou que, no último mês, tinha copulado com sete moçoilas graças a um aplicativo inovador chamado Tinder. Curioso, perguntei como funcionava. Ele explicou: bastava deslizar para a direita nas pessoas que você gostasse e, se elas retribuíssem o gesto, vocês poderiam começar uma conversa que, com sorte, levaria a um encontro. A ideia parecia simples, intuitiva e, de certa forma, genial.
Era só isso? Não podia ser tão difícil, certo? Mas foi. Muito mais difícil do que eu imaginava. Passei o primeiro mês no aplicativo sem conseguir um único “match”. Nenhum. Era como se meu perfil estivesse invisível. Mudei fotos, descrições, tentei tudo o que podia. Ainda assim, os resultados não vieram. Comecei a acreditar que o aplicativo era uma prova de que Deus estava morto – e que quem controlava o mundo me odiava.
Quando compartilhei minha frustração com Emerson, o lendário homem conhecido como o mais proeminente praticante do sete contra um, riu como se eu tivesse contado a melhor piada do ano. E, depois de rir até chorar, proferiu as palavras que mudariam minha trajetória: “Gordas depressivas”.
Inicialmente, fiquei confuso. Ele então explicou, pacientemente, que eu estava mirando alto demais – tentando “enfrentar o chefão final” sem sequer ter ganhado experiência no jogo. Não fazia sentido dar like em supermodelos e esperar que elas retribuíssem. Em vez disso, segundo ele, deveria mirar em um nicho esquecido e subestimado, onde minhas chances seriam significativamente maiores.
Essa abordagem pragmática abriu meus olhos. Para Emerson, a estratégia era clara: buscar mulheres que, segundo ele, “procurariam balanças de caminhão para se pesar”. Era nojento, mas, genial, e fazia completo sentido. Já que so um mamute, preste a enfretar a morte, teria o despego de sair com o mestre do bumbum guloso.
Contudo, eu não era tão desapegado ou cínico quanto ele. Não conseguia me imaginar chafurdando e meio a e suor de um monstro de pele e gordura, muita pele e muita gordura. Precisava encontrar meu próprio nicho.
Após várias tentativas frustradas, resolvi aplicar meu conhecimento profissional em planejamento de dados. Criei uma espécie de “estratégia de Big Data”. Mas havia dois problemas principais. Primeiro, o plano gratuito do Tinder limitava o número de curtidas diárias, tornando difícil obter uma amostragem significativa. Segundo, eu tinha pouco tempo livre para me dedicar a essa pesquisa sociológica tão peculiar.
A solução para o primeiro problema foi simples: assinei o plano pago do Tinder, o que me deu acesso a curtidas ilimitadas e a possibilidade de alterar a localização. Já para o segundo problema, precisei ser mais criativo. Aprendi programação básica e desenvolvi um script que, enquanto eu trabalhava, curtia perfis automaticamente e registrava dados em uma planilha para análise posterior.
Claro, essa abordagem gerou um terceiro problema: como filtrar os perfis que não tinham nada a ver comigo? A resposta foi não filtrar. Decidi que seria mais honesto coletar os dados sem interferências, deixando o algoritmo agir por conta própria.
O resultado inicial foi um show de horrores: likes de homens, Gordas, propostas bizarras e mensagens que jamais poderiam ter encontrado os olhos humanos. Mas, em meio ao caos, encontrei uma luz. Uma garota, cujo nome já não me recordo, mas que foi essencial naquele momento. Tinha idade próxima à minha, era de uma cidade do interior de Pernambuco e buscava apenas um homem gentil, algo que, segundo ela, nunca encontrou em sua cidade natal.
Nos relacionamos por um curto período, mas aquilo me deu clareza. um norte do que poderia ser minha vida dali pra frente, finalmente compreendi que, para alguém como eu, o segredo não estava em beleza ou status, aquilo me cravava um perfil na mente de alguém que pudesse gostar de um cara como eu e não fosse uma gorda nojenta como o Emerson me sugeria, graças aos deuses.
E claro que isso foi o prologo de muita coisa que aconteceria, a seguir, mas por ora, quero deixar um gostinho de quero mais, então até a próxima semana com mais uma historia, da minha vida, Abraços.