E Se… o cristianismo não existisse?

Imagina um planeta sem cristianismo. Sem Igreja, sem papa, sem cruz, sem Ave Maria. Jesus não nasceu (ou ninguém deu bola pra ele), os apóstolos não saíram por aí pregando, e a Bíblia virou um manuscrito obscuro esquecido num porão da Galileia. No lugar do Nazareno, quem reinaria seria Mitra – deus solar de origem persa, adorado por soldados romanos suados e senadores entediados. O mundo teria sido moldado sob a luz desse outro sol.

Roma, sem se converter à cruz, teria dobrado os joelhos ao elmo dourado do mitraísmo. Em vez de igrejas, cavernas-santuário. Em vez de padres, legionários devotos. O imperador Aureliano já tinha dado o primeiro passo em 274: construiu um templo, criou sacerdócio e oficializou a religião. Se não fosse Constantino e sua guinada cristã, o mundo hoje estaria celebrando o nascimento de Mitra no dia 25 de dezembro – que, aliás, sempre foi dele antes de ser sequestrado pelo Natal.

E o mitraísmo, ao contrário dos monoteísmos que vieram depois, era até gente boa… em certos aspectos. Mais tolerante, menos fanático, mas machista pra caramba: mulheres não participavam de nada. Uma irmandade secreta de marmanjos que misturava mística persa com disciplina militar romana. Um clube do Bolinha místico do qual o cristianismo acabou vencendo por W.O. histórico.

Mas e o Islã? Esse viria do mesmo jeito. Com ou sem cristianismo, Maomé ainda nasceria em Meca, ainda receberia suas revelações, e ainda montaria um império. A diferença? Sem cruzados no caminho, o crescimento islâmico seria ainda mais expansivo. Os califas navegariam antes, invadiriam mais longe. O mapa do mundo viraria um enorme tapete de mesquitas.

Linha do tempo da alucinação global:

Ano 1 DZ (Depois de Zaratustra): O profeta persa planta as sementes da fé solar.
Século 3 a.C.: Mitra nasce do nada (ou de uma rocha, depende da versão) e começa a fazer sucesso entre os legionários.
Ano 274 d.C.: Roma oficializa Mitra. O cristianismo, sem força, morre no berço.
Ano 476: Roma cai, mas os bárbaros também são mitraístas. Europa vira um museu a céu aberto de deuses solares e mistérios persas.
Século 6: Maomé nasce. O Islã floresce. E sem cristãos no caminho, vai longe.
Ano 1028: Muçulmanos chegam às Américas. Entram por Cuba, escorregam pelo sul dos EUA, e chegam até São Paulo.
Ano 1300: O sertão nordestino vira califado. A Baía de Guanabara, ponto comercial fervilhante. Nova York e Buenos Aires, potências mitraístas.
Ano 1600: A tensão estoura: guerra global entre o Sol e o Crescente. A 1ª Guerra Mundial do mundo alternativo começa no Rio e explode na Europa.
Ano 1900: A revanche islâmica vem com tudo. 2ª Guerra. Paris cai. Nova York se curva à sharia.
Ano 2007: O mundo é muçulmano em 85%. Os mitraístas, virando seita radical, jogam aviões contra a maior mesquita de Manhattan.

O mundo sem o cristianismo talvez fosse mais ou menos igual. Talvez pior. Talvez melhor em algumas coisas, mais estético, mais pagão, menos culpa e autoflagelação. Ou talvez apenas trocássemos um dogma por outro, com roupagem diferente, mas os mesmos vícios: guerras santas, intolerância, controle social.

E no fim, a cruz teria sido só um detalhe. O verdadeiro império foi sempre o da fé. Troque o símbolo, mude os deuses, altere as datas. O ser humano continua sendo o mesmo: carente, fanático, e pronto pra matar em nome de qualquer divindade que prometa sentido pro caos.

Mauricio Martucci

Maurício Martucci é Economista, Podcaster e Arrombado nas horas vagas.