E Se… o Brasil Tivesse a bomba atômica

Vamos começar pelo começo: uma bomba atômica na América do Sul reacenderia velhas rivalidades. A aparente calmaria da região existe, em grande parte, porque nenhum país por aqui conta com armamentos nucleares. No momento em que um deles conseguisse desenvolver uma ogiva, os vizinhos não demorariam a correr atrás do prejuízo, investindo pesado em tecnologia bélica. O resultado? Uma corrida armamentista à moda sul-americana, com Brasil e Argentina puxando a fila, num remake tropical da Guerra Fria.

Mas o cenário poderia piorar — e muito. Desde os anos 70, o Brasil se comprometeu oficialmente a não entrar nesse jogo, assinando tratados que vetam a construção de armas nucleares. Ignorar esse compromisso teria um custo alto. Ainda que a punição não fosse tão brutal quanto a aplicada a outros países, as consequências seriam inevitáveis. Bloqueios econômicos, isolamento diplomático e cortes em acordos comerciais fariam parte do pacote. O Brasil perderia o apoio de potências tradicionais e precisaria buscar abrigo em parcerias alternativas — e nesse caso, o olhar viraria naturalmente para o Oriente.

A reaproximação com países de perfil autoritário, como China, Irã ou Coreia do Norte, acabaria moldando também a política interna. Não haveria espaço para democracia plena em um país disposto a sustentar um programa nuclear à margem das normas internacionais. Com a repressão crescendo, a censura voltaria a ser parte do cotidiano, e a liberdade de imprensa entraria em declínio.

Economicamente, o baque seria duro. O comércio internacional sofreria, o investimento estrangeiro minguaria, e a renda média da população estagnaria. Com isso, os sonhos da classe média — como viagens internacionais, gadgets importados e um quarto só seu — virariam luxo inalcançável.

Sem produtos americanos nas prateleiras, o mercado seria invadido por eletrônicos chineses. E com a queda na oferta de marcas conhecidas, a pirataria voltaria a bombar. Quem quisesse uma calça de grife ou o último lançamento do cinema americano teria que se virar no mercado paralelo.

E o passaporte verde-amarelo? Passaria a valer menos no mundo. Com o Brasil malvisto por boa parte do Ocidente, tirar visto para países como Estados Unidos ou França seria um drama. Paris e Disney voltariam ao status de sonho distante.

Num possível cenário de aproximação com países como Irã e Coreia do Norte, o intercâmbio cultural tomaria rumos inesperados. De um lado, veríamos carnavais exóticos surgindo em Teerã ou Pyongyang. De outro, talvez você se pegasse curtindo um novo álbum pop-coreano, mas não da Coreia do Sul.

No fim das contas, o preço de se tornar uma potência atômica talvez fosse alto demais — não só em cifras, mas também em liberdade, cultura e qualidade de vida.

Mauricio Martucci

Maurício Martucci é Economista, Podcaster e Arrombado nas horas vagas.