E Se… Japão tivesse ganhado dos EUA

Todo mundo aprende na escola que, no dia 7 de dezembro de 1941, o Japão lançou um ataque surpresa contra Pearl Harbor, uma base naval dos Estados Unidos no Havaí. Mais de dois mil americanos morreram, e o bombardeio foi o estopim que fez a opinião pública dos EUA apoiar de vez a entrada na Segunda Guerra Mundial.

Mas poucos sabem que, quatro anos antes — em outro dia 7, só que de abril de 1937 — o jornal Los Angeles Examiner já havia publicado uma matéria com o título: “Como o Japão poderia atacar os Estados Unidos”. O Japão havia acabado de invadir a China, e o jornal queria alertar o público para a ameaça que o império asiático representava. Só que a tal matéria ia além do alerta: acompanhada de um mapa ilustrado, ela praticamente desenhava um plano de guerra completo, com tática, rota e alvos estratégicos — e, pasme, um plano com mais chances de sucesso do que o que realmente aconteceu em Pearl Harbor.

Um plano pronto pra execução

O mapa da reportagem, assinado pelo artista Howard Burke, começava destacando a proximidade geográfica entre Japão e Estados Unidos, sugerindo duas possíveis bases de ataque: Dutch Harbor, no Alasca, e Pearl Harbor, no Havaí. Assim como na vida real, o plano começava com um ataque à base havaiana.

Na história oficial, o ataque a Pearl Harbor enfraqueceu parte significativa da frota americana, mas não foi suficiente para paralisar sua capacidade de recuperação. Os japoneses queriam uma vitória rápida, e por isso não se deram ao trabalho de destruir galpões de manutenção ou tanques de combustível — justamente o tipo de infraestrutura que tornaria uma invasão mais eficaz.

E se fosse diferente?

É nesse ponto que a reportagem do Examiner diverge da realidade. Em vez de um ataque-relâmpago seguido de retirada, o plano sugerido pelo jornal previa que o Japão dominasse completamente a base naval de Pearl Harbor. A partir dali, a ofensiva seguiria em direção ao continente, mirando em São Francisco e Los Angeles.

O mapa publicado mostrava alvos estratégicos em cada cidade. Em São Francisco, a famosa Golden Gate Bridge seria bombardeada para isolar o porto e travar o comércio local. Já em Los Angeles, os desenhos indicavam os reservatórios de petróleo, pontos frágeis da rede elétrica, aquedutos e áreas vulneráveis da costa — ideais para o pouso de aviões.

Tudo isso resultaria em uma crise de abastecimento de água e energia e, claro, no colapso da infraestrutura urbana.

E o melhor (ou pior): era só distração

Mas o mais assustador (ou brilhante, dependendo do ponto de vista) é que todo esse caos na Costa Oeste seria apenas uma distração. Enquanto os americanos concentrassem sua defesa no sul do Pacífico, os japoneses, segundo o plano do jornal, avançariam pelo norte.

Lembra de Dutch Harbor, no Alasca? Pois é. A reportagem sugeria que, com as atenções voltadas para o sul, o local ficaria vulnerável. A baía então serviria de base para um ataque em larga escala pelo norte, seguindo por Seattle e avançando por terra e ar rumo ao interior dos Estados Unidos.

O que poderia ter sido

É verdade que conquistar e manter todo o território americano seria uma missão praticamente impossível. Mas é inegável que a estratégia descrita pelo Examiner teria causado muito mais estrago do que o susto de Pearl Harbor. Fica a lição: se algum dia você pensar em invadir um país, talvez valha a pena dar uma espiada nos jornais locais. Vai que eles já fizeram o trabalho sujo por você.

Mauricio Martucci

Maurício Martucci é Economista, Podcaster e Arrombado nas horas vagas.