E Se… a União Soviética não tivesse acabado?

No dia 25 de dezembro de 1991, Mikhail Gorbachev, o primeiro (e último) presidente da União Soviética, anunciou sua renúncia. Naquele momento simbólico, a bandeira vermelha com a foice e o martelo foi baixada do Kremlin — e nunca mais seria hasteada. No dia seguinte, o Soviete Supremo dissolveu oficialmente a URSS, enterrando de vez um império que durou quase sete décadas.

A narrativa comum é que a União Soviética caiu por causa do capitalismo e da democracia. Mas a verdade é mais complexa. O maior motor do colapso não foi a sede por liberdade, e sim o nacionalismo. As reformas de Gorbachev, que buscavam modernizar o sistema, acabaram acelerando a fragmentação do país.

O Referendo e a Última Chance da URSS

Em março de 1991, um referendo mostrou que 77,85% dos soviéticos queriam manter a União — mas sob um novo nome: União das Repúblicas Soberanas Soviéticas. A mudança de “Socialistas” para “Soberanas” dizia tudo: mesmo que a URSS sobrevivesse, seria apenas uma confederação de países independentes, unidos por acordos militares e comerciais.

Mas os comunistas da linha dura não aceitariam isso. Em agosto, um grupo de conservadores tentou um golpe, prendendo Gorbachev e declarando-o “incapacitado”. O plano foi um desastre. Sem apoio popular e com Boris Yeltsin liderando a resistência na Rússia, os golpistas fracassaram — e, com isso, enterraram de vez qualquer chance de salvar a URSS.

E Se o Golpe Não Tivesse Acontecido?

Se os conservadores não tivessem tentado tomar o poder, a URSS provavelmente teria se transformado em algo parecido com a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que existe até hoje. A bandeira vermelha ainda tremularia, mas representaria uma aliança de países capitalistas e (em teoria) democráticos — ainda que, na prática, muitos ficassem sob o controle de elites locais.

Vladimir Putin, ex-agente da KGB, provavelmente ainda chegaria ao poder na Rússia, como aconteceu em 1999. A principal diferença? Apenas o nome. No fundo, seria o mesmo jogo geopolítico que vemos hoje.

E Se o Golpe Tivesse Dado Certo?

Aqui as coisas ficam sombrias. Se os linha-dura tivessem conseguido manter a URSS unida à força, o resultado seria uma guerra civil sangrenta, semelhante ao que aconteceu na Iugoslávia nos anos 1990.

  • Países como Ucrânia, Bálticos e Geórgia lutariam por independência.
  • O Ocidente poderia intervir, apoiando os separatistas.
  • A China, rival histórica da URSS, também entraria no jogo.

E o pior? A União Soviética tinha armas nucleares. Se os líderes golpistas decidissem usá-las para evitar a dissolução, o mundo inteiro ficaria à beira de um conflito catastrófico.

Ou… A URSS Poderia Ter Sido Como a China?

Há ainda uma terceira possibilidade: e se, após o golpe, a URSS adotasse o modelo chinês — capitalismo econômico com autoritarismo político?

A União Soviética tinha vantagens:

  • Indústria mais desenvolvida que a China nos anos 1990.
  • Sistema educacional avançado.

Mas também desafios:

  • Dependência de importações de grãos.
  • Relações tensas com o Ocidente.

Se os EUA aceitassem negociar, a URSS poderia ter se tornado uma potência capitalista autoritária, rivalizando com a China. Mas, sem uma abertura diplomática, o mais provável seria um colapso econômico — e mais cedo ou mais tarde, o fim viria do mesmo jeito.

Mauricio Martucci

Maurício Martucci é Economista, Podcaster e Arrombado nas horas vagas.