O Norte Se Lembra

Olá, caro leitor acreano! Sejam muito bem-vindos a mais uma edição sobre o fim de todas as coisas. Para a coluna desta semana, gostaria de usar este espaço para dividir o momento atual da minha vida e dores.

O “Era da Escrotidão” é meu maior sonho, e venho trabalhando nisso com muito afinco e prazer. Porém, algumas coisas fogem do meu controle, tanto na minha vida pessoal quanto na profissional, e isso tem impactado o andamento do Era. Essa situação já vem acontecendo há algumas semanas.

Estamos prestes a completar quatro semanas sem podcast, e os textos planejados para “O Fim de Todas as Coisas” começaram a acabar. Entendo que isso faz parte da vida, mas, devido ao planejamento que tentei manter na produção dos conteúdo do site, sinto-me frustrado ao perceber que problemas externos à Era estão afetando toda a cadeia de planejamento.

Acredito que o conteúdo será regularizado nos próximos Quinze dias, com a postagem de programas extras além dos ordinários. No caso dos textos, minha prioridade será garantir a periodicidade intacta.

Você, caro leitor acreano, pode estar se perguntando: “Mas o que aconteceu de tão grave para afetar o projeto mais querido?” A resposta honesta é que, em tempos de layoff, não posso abrir a situação da maneira que gostaria, ou deveria, por uma questão de autopreservação. Contudo, para que possa trazer algum entretenimento, ocultarei todos os nomes, lugares e fatos que não colaborem com a narrativa ou que possam identificar os personagens reais dessa história.

Utilizarei, em como base, o universo de Crônicas de Gelo e Fogo. Pode parecer maluco a princípio, mas confiem em mim: logo vocês entenderão o porquê.

Essa história se inicia há 3 anos, com o fim da rebelião de Robert e a ascensão dos Baratheon ao poder. O ouro em Westeros era abundante, e Robert contratou os melhores lordes que dragões de ouro podiam comprar.
Porém, essa abundância de dragões transformou-se em luas de prata, que logo viraram veados, e, quando menos imaginávamos, eram apenas meios vinténs.

Eu, por minha vez, como um nortenho de nascença, me tornei o Protetor do Norte, Senhor dos Primeiros Homens, comandando uma área esquecida pelos deuses, onde apenas a guerra aquece o coração dos homens já sem esperança.
Minha entrada foi marcada por muitas promessas de melhorias e reestruturações que nunca vieram, pois o Norte era diferente de tudo que eu já havia visto em minha vida. Entretanto, por um breve acaso, conquistei a simpatia de Lord Lannister, com quem me tornei um bom amigo.

O Rei Robert, por sua vez, era um guerreiro por natureza, mas os tempos de paz o amoleceram. Logo ficou gordo e perdeu o interesse pelo governo do reino. A contragosto, tive que me tornar sua Mão do Rei. Alguns diriam que “o rei sonha e a Mão constrói”, mas, nesse caso, o ditado mais apropriado seria: “o rei caga, e a Mão limpa”.

Os anos se passaram, e o reino entrou em caos. Eu e Lord Lannister mantínhamos o controle de Westeros. Éramos nós dois contra os senhores das Cidades Livres, de Ibben e até Asshai das Sombras. Éramos bons juntos e, se não fosse pelas ambições sulistas, tudo ainda estaria bem.

Lord Lannister apresentou a Robert uma concubina das terras ocidentais, algo que agradava e entretinha o rei, mas isso desestabilizou o poder. Lord Lannister, que já fora Protetor do Norte, ressentia-se por ter perdido esse título. Embora não fosse minha culpa e o cargo fosse meu por direito, ele secretamente alimentava rancor.
Fui forçado a agir, a me opor e a suprimir a rebelião. Poupei Lord Lannister, mas ele guardou mágoas. E, como todos sabem, um Lannister sempre paga suas dívidas.

Minha vida tornou-se um esforço constante para manter o reino de pé após essa insurreição. Não foi fácil. Perdi poder político, e a moral das tropas, já enfraquecida pela perda do apoio dos Lannister, tornou-se quase insustentável.

Desprevenido, caí em uma armadilha quase mortal. O Senhor das Terras Ocidentais atraiu meu vassalo e homem mais leal, Lord Karstark, para suas garras, fazendo-o corroborar em sua narrativa vil. Com isso, envenenou os ouvidos do Rei Robert. Sem escolha, ao perceber que a lealdade de Karstark havia se esvaído, tive que ditar a sentença e brandir a espada contra meu homem mais fiel.

Ainda assim, a manipulação de Lord Lannister funcionou. Ele impediu que eu trouxesse ao meu Pequeno Conselho a Senhora das Ilhas dos Ursos, Lady Mormont, favorecendo, em vez disso, uma família sulista que migrara para as terras nortenhas há algumas gerações: os Manderly.

Essas situações abalavam meus vassalos e alimentavam a paranoia sobre em quem eu poderia confiar, exatamente como Lord Lannister desejava. Ele queria me pegar desprevenido.

O ápice de seu plano aconteceu em 30 de dezembro do ano da graça dos Velhos Deuses de 2024. Por meio de mentiras e da quebra dos acordos que construímos ao longo dos anos, Lord Lannister conquistou minha queda, obrigando-me a vestir o manto negro. Ou assim ele pensou.
Mas os deuses têm seus mistérios. Dias após ordenar que eu vestisse negro e fosse para a Muralha, Rei Robert foi atacado por um javali e encontrou seu fim.

Rei Robert estava morto. Contudo, não houve um vácuo de poder: Lord Lannister se declarou Rei dos Sete Reinos. Eu, por minha vez, proclamei-me Rei do Norte. Não me interessava governar as terras ocidentais — o que é meu por direito. Queria apenas a independência para agir da melhor maneira pelo reino.

Ele tomou Porto Real e marchou em direção ao Gargalo, onde agora me encontro encastelado, defendendo o pouco que me resta. Sei que cada homem nortenho vale por dez de seus fracos sulistas. Ele pode acreditar que um lobo solitário se ajoelhará, mas, mesmo encastelado, recito meu mantra todas as noites: O NORTE SE LEMBRA.

Espero que tenham gostado da crônica desta semana. Sei que foi um pouco diferente do habitual, mas foi muito importante dividir, ao meu modo, tudo que vem me afligindo nas últimas semanas.
Espero vocês na próxima semana, e que os deuses sejam bons.

Mauricio Martucci

Maurício Martucci é Economista, Podcaster e Arrombado nas horas vagas.