E Assim Começa a Grande Era Da Escrotidão
Eu pensei bastante sobre como começar este texto, porque, como o título sugere, este é o início da chamada “Grande Era da Escrotidão”. É complicado colocar em palavras tudo o que sinto neste momento. Afinal, depois de tantos anos reprimindo esses pensamentos e desejos, é difícil para mim traduzir em frases a realização de algo que sempre achei que nunca se tornaria real. Tentar expressar isso parece, à primeira vista, um ato banal, porque nenhuma palavra seria capaz de transmitir, de fato, todas as nossas ambições e esperanças depositadas em algo que nunca aconteceu.
Para mim, este pequeno site representa mais do que aparenta; é como acreditar que os grandes impérios começaram em pequenas garagens – embora saiba que muitos fracassos começaram da mesma forma.
Pensando bem, acho que comecei a contar minha história pelo meio. E como diria minha querida avozinha: vamos começar pelo começo.
Olá, caro leitor acreano! Meu nome é Maurício Martucci, sou economista, podcaster e produtor de conteúdo há 15 anos.
Minha jornada pela interwebs começou em 2010, no auge da blogosfera, quando os sites ainda disputavam espaço de relevância com as redes sociais. Naquela época, os autoproclamados blogueiros mantinham pleno controle sobre seus conteúdos. Os hoje tão comuns “memes” ainda estavam em seu estágio embrionário, com figuras como Trollface, Forever Alone, Jeremias e Morre diabo, dominavam o humor da época.
Com apenas 16 anos, no auge da minha “maturidade”, decidi criar meu primeiro blog: o “Nerd Otaku Zone”. Pelo nome original e incrível, você já deve imaginar o tema do blog… Humor. Porque, claro, com um nome desses, eu tinha certeza de que atrairia um grande público, muito sucesso e, obviamente, mulheres.
Para minha surpresa, foi um fracasso total. Foram dois anos de postagens diárias, compilando os melhores memes produzidos por outros blogueiros — muito maiores, mais velhos e mais experientes, diga-se de passagem. Eu republicava os memes na semana seguinte, e, obviamente, ninguém tinha motivo para voltar ao meu blog para rever algo que já havia visto antes.
Essa experiência me enriqueceu muito como profissional, ajudando-me a compreender como funcionavam a frequência de postagem, a programação básica e, o mais importante, que um conteúdo só é eficaz dentro de um contexto de construção de marca. Nada é realmente original, mas é a forma como você agrega valor e contexto ao seu conteúdo que define sua importância, e não a simples repostagem visando apenas visualizações fáceis.
O fim do “Nerd Otaku Zone” aconteceu em 2012, e por um momento me senti perdido sobre como produzir conteúdo, já que o YouTube estava apenas começando a ganhar espaço, enquanto a blogosfera entrava em declínio. Os vlogs eram a sensação do momento, e nomes como PC Siqueira, Cauê Moura e Felipe Neto eram os ídolos teens da época. No entanto, minha perspectiva mudou quando em 2013 conheci o Nerdcast, o maior podcast do Brasil.
O Nerdcast, na primeira vez que ouvi, mudou completamente minha perspectiva de mundo. Eles eram inovadores, descontraídos e construíam uma comunidade forte e crescente, oferecendo produtos de alta qualidade, como livros, camisetas, baralhos e canecas. Eles eram incríveis, e aquilo se tornou uma parte essencial da minha vida.
No mesmo ano, decidi abrir um novo blog e criar um podcast chamado “Nerd História”. Confesso que era horrível, e não sei se ele ainda pode ser encontrado, mas durou apenas dois episódios. Foi, sem dúvida, o que posso chamar de um dos pontos mais baixos da minha carreira. Os temas eram péssimos, a edição, que eu estava apenas começando a aprender, era tão ruim quanto bater na mãe em noite de natal, e os equipamentos de gravação eram muito péssimos.
Apesar disso, algo despertou dentro de mim: a vontade de produzir podcasts. Essa chama nunca se apagou.
Talvez, se você começou a acompanhar podcasts durante a pandemia, não entenda completamente a totalidade desse movimento sociocultural brasileiro. Eles eram, originalmente, um espaço onde os criadores podiam conversar com amigos, compartilhar histórias, debater temas relevantes de história e política ou realizar reflexões sobre tópicos variados, como nerdices, fenômenos sobrenaturais e empreendedorismo.
Hoje, ao observar no que o movimento se transformou – reduzido a entrevistas em vídeo que deturpam o conceito original da proposta, onde os assuntos são superficiais e os “cortes” têm mais valor do que um conteúdo programático bem elaborado –, isso me entristece. De certa forma, isso fomenta um tipo de entretenimento sensacionalista, o famoso “mundo cão”, que acaba ofuscando a profundidade e a essência dos podcasts originais.
Em 2014, junto com dois amigos, criei a “Irmandade do Sake”, um podcast semanal sobre cultura pop. Durante um ano e meio, produzimos conteúdo e, para mim, foi a primeira experiência concreta trabalhando nessa área. Esse projeto me proporcionou um grande aprendizado como editor, planejador e produtor de conteúdo. No entanto, o podcast acabou sendo interrompido quando, pela primeira vez, a vida real nos alcançou. Nossos empregos, o desejo de crescer em nossas carreiras, a faculdade — tudo isso acabou enterrando nossos sonhos. As mudanças nas nossas rotinas de trabalho e vida social começaram a comprometer a periodicidade das postagens e o cronograma de gravação, dificultando a continuidade do projeto.
E você pode estar se perguntando: “Mas, Maurício, o que isso tem a ver com a Era da Escrotidão?” Calma, caro leitor acreano! Depois desse prefácio longuíssimo, vamos à história de como nasceu a Era da Escrotidão.
Dois anos após o fim da Irmandade do Sake, mais precisamente em 2017, eu ainda sentia falta de escrever e falar minhas atrocidades. Contudo, no meio da minha rotina como estudante de História e analista de planejamento, não havia espaço para transformar um site em um projeto comercial. Foi então que criei a Era da Escrotidão, um lugar onde meus sonhos podiam ir para morrer.
Nos dois anos seguintes, mantive o site de forma esporádica, escrevendo sobre minhas angústias e medos, enquanto depositava nele a esperança de um futuro melhor. Até que 2019 chegou.
Naquele ano, me casei, fui promovido no trabalho e comprei um imóvel. Mais uma vez, a vida real e meus sonhos se chocaram, e novamente tive que escolher o fim da Era da Escrotidão.
Depois disso, veio a pandemia, uma série de mudanças de emprego, troca de casa, um divórcio e uma reconciliação – enfim, foram cinco anos intensos e transformadores.
Agora, talvez você esteja se perguntando: “Por que voltar para a internet?” A resposta é simples: hoje, aos 31 anos, posso dizer que alcancei tudo o que um homem da minha idade poderia desejar. Tenho uma carreira estável, uma boa esposa, uma casa própria, um carro e os melhores amigos que alguém poderia querer. Mas, sabe, ainda faltava algo.
E esse “algo” é este espaço. Um lugar onde posso ser eu mesmo – para o bem e para o mal. Um espaço onde ainda tenho controle sobre minha narrativa. Não tenho grandes ambições de atrair um público massivo ou mover multidões. Meu objetivo aqui é simples: criar um ambiente que acolha minhas angústias e esperanças. Um espaço onde eu possa exercer minha criatividade e autenticidade sem pressões externas.
Se você leu até aqui, só posso agradecer por me permitir compartilhar minha história com você. Seja muito bem-vindo à Era da Escrotidão – o lugar onde os sonhos vêm para morrer… e, quem sabe, para renascer.